UMA INTERPRETAÇÃO SOBRE OS BATISTAS
Introdução
A denominação religiosa conhecida como Igreja Batista continua crescendo em todo o mundo, seja através do número de membros nas comunidades locais, seja através da obra missionária realizada em cada país ou em várias partes do mundo.
No ano de 1971, a estatística fornecida pela Aliança Batista Mundial informava a existência de 31.041.337 membros[1]. Na década de l980, exatamente no ano de 1987, o total era de 33.190.977 membros arrolados nas igrejas[2] Em 1995, os números totais revelavam 38.775.293 arrolados[3]. Uma estatística extremamente otimista, publicada sobre o número de todos os batistas em todo o mundo, em 2010, informava um total de cerca de 100 milhões de fiéis[4]. A última estimativa estatística falou na existência em 2020, segundo o pesquisador Sébastien Fath do CNRS, de cerca de 170 milhões de fiéis em todo o mundo[5].
No Brasil, com a conversão do primeiro brasileiro que se tornou membro da primeira igreja batista no ano de 1882, em Salvador, na Bahia, a denominação chegou ao seu centenário em l982 contando com quase 600.000 membros[6]. Somando todas as convenções batistas existentes dos vários grupos, a estimativa otimista que circulava na época era de 1.000.000 de membros. No ano 2010, de acordo com o Livro do Mensageiro da CBB eram 1.361.312 de membros, 7.806 igrejas e 4.377 congregações[7]. Em 2020 as estatísticas da CBB mostraram 9.070 igrejas e 1.797.597 membros[8] O impressionante crescimento dos batistas como expressão tradicional protestante, sem apelar às necessidades, sem manipular as emoções, sem oferecer prosperidade material, sem atrair com promessa de curas, não pode ser explicado sem levar em consideração as várias motivações espirituais periódicas que movem os batistas na obra missionária, principalmente na atualidade a motivação de apressar a volta de Jesus Cristo, no objetivo de fazer o evangelho conhecido em todo o mundo. Outro detalhe relevante é o objetivo maior da obra missionária, isto é, persuadir pessoas a acreditarem em Jesus Cristo mediante o arrependimento de pecados, sendo batizadas por imersão, para formação de novas comunidades à luz dos ensinos do Novo Testamento.
1. Sua diversidade
Embora para muitas pessoas pareça que só existe um tipo de cristão batista, esta não é a verdade dos fatos. Historicamente, a partir do momento quando os historiadores registram por escrito o nome “batista”, já existiam dois grupos distintos: os batistas gerais e os batistas particulares. Essa primeira distinção se referia ao alcance do sacrifício de Jesus Cristo. Para os batistas gerais todos os que acreditassem e se arrependessem dos seus pecados poderiam ser salvos. Para os batistas particulares, apenas os eleitos previamente seriam salvos, isto é, os que foram predestinados[9].
Nos dias atuais, particularmente no Brasil, além dos que existem em outros países, destacam-se os batistas da CBB, batistas regulares, batistas fundamentalistas, batistas conservadores, batistas bíblicos, batistas independentes, batistas renovados. Cada um desses grupos tem peculiaridades que os distinguem uns dos outros, principalmente aspectos doutrinários e históricos.
2. Doutrinas Básicas
Embora existam pequenas diferenças de um grupo para outro, entre os batistas, um dos fatos que os identificam como tal, ao longo dos tempos, é o seu corpo básico de doutrina, a saber: salvação mediante o arrependimento de pecados e a fé em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador; atuação do Espírito Santo na experiência da conversão, na santificação e na concessão de dons e fruto do Espírito através da sua plenitude; batismo por imersão nas águas para os que conscientemente se convertem; Bíblia como única regra de fé e prática, considerando o Novo Testamento base dos ensinos para as igrejas; igrejas locais, autônomas, democráticas e constituídas por membros convertidos e batizados; acesso dos crentes a Deus diante de Deus, através de Jesus Cristo em seu sacerdócio universal; separação entre Igreja e Estado.
Através da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, os batistas a ela pertencentes expressam suas convicções em “declarações doutrinárias que esclareçam os espíritos, dissipem dúvidas e reafirmem posições, com a exigência insubstituível de ser rigorosamente fundamentada na Palavra de Deus”[10]. Essa referida Declaração está disponível em forma impressa e através do site da Convenção.
3. Origens Sugeridas
Quando buscam saber a origem dos batistas, as pessoas interessadas são informadas de que existem teorias que os ligam a outros grupos religiosos existentes nos tempos passados. Uma delas postula que os batistas seriam herdeiros dos “anabatistas” do século XVI. Outra teoria, de que seriam sucessores de “separatistas ingleses” (da Igreja Anglicana), do século XVII[11]. Ainda mais uma teoria reivindica serem continuidade ininterrupta de discípulos de João Batista, teoria conhecida como JJJ[12].
Sobre essa origem mais antiga, em que os batistas também são associados aos anabatistas, menonitas, valdenses, focando o terceiro século, um historiador escreveu: “Por esse tempo, terceiro século AD, furiosa controvérsia surgiu que durou por centenas de anos, até mesmo aos dias da Reforma. Os que insistiam sobre rebatismo de todos os que lhe vinham foram achincalhados de anabatistas ou rebatizadores, nome que carregam com outros nomes por centenas de anos”. Os anabatistas foram anematizados e excomungados como consequência dessa controvérsia ao exigirem um segundo batismo[13]. O historiador Latourette escreveu: “Os anabatistas eran la manifestacion de uma corriente continuativa del cristianismo que habia estado presente desde sus mismos princípios y que antes e despues de la reforma se há expresado em muchas formas... Los montanistas, marcionitas y novacianos fueram desta tradicion... Los paulacianos nos parecem haberse formado originalmente de un impulso semejante”[14]
Por mais que cada uma dessas teorias tenha sua interpretação como válida, inclusive ao gosto de quem escolha a que mais lhe pareça plausível, o que mais importa para os historiadores é a existência de documentos que provem seu surgimento em determinado lugar e época. Por isso, o marco inicial formal dos batistas é o surgimento de sua primeira igreja em 1609, na cidade de Amsterdam, na Holanda, sob a liderança de John Smyth e também em 1612, na Inglaterra, nos arredores de Londres, sob a liderança de Tomás Helwys[15].
De qualquer maneira, escrevendo sobre essas origens dos batistas, o historiador José Reis Pereira deixou escrito: “Nós, entretanto, dizemos que é possível aproveitar alguma coisa de cada uma dessas teorias. É preciso ter em mente que o nome ‘batistas’ é um rótulo, uma designação cômoda, um apelido adotado por inimigos do povo batista, com o objetivo de melhor caracterizá-los”[16].
Conclusão
Os batistas espalharam-se por todos os recantos da Europa, Américas, Ásia e África, formando uma comunidade de milhões de pessoas. Chegaram ao Brasil e aqui exercem influência em todos os segmentos sociais, presentes em todas as classes sociais, participando de todas as atividades sociais, culturais e profissionais, além de sua atividade especificamente religiosa e espiritual.
Têm resistido a todas as tentativas de perda da identidade, inclusive desde o início do ecumenismo e do sincretismo religioso. Zela por seus princípios e valores, inclusive pela liberdade religiosa que implica em tolerância e convivência respeitosa.
Por mais que os números sejam importantes e que estar estatisticamente entre os maiores grupos religiosos na divulgação das mídias seja atraente, o que os batistas mais prezam é sua fidelidade ao nome e aos ensinos de Jesus Cristo, conforme estão nas páginas do Novo Testamento.
Autor: Edson Raposo Belchior
[1] PEREIRA, José Reis. Breve História dos Batistas. Rio de Janeiro, Juerp, 1972, pg. 113-115.
[2] Jornal Batista. Edição 01/02/1987.
[3] Folheto da Aliança Batista Mundial. Congresso em Buenos Aires, Argentina. Julho de 1994.
[4] J. Gordon Melton and Martin Baumann, Religions of the World: A Comprehensive Encyclopedia of Beliefs and Practices, ABC-CLIO, EUA, 2010, p. 299.
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Batista
[6] Livro do Mensageiro da Assembleia Anual da CBB, 1983, pg. 71
[7] Livro do Mensageiro da Assembleia Anual da CBB, 2011, p. 46,47,
[8] https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Batista
[9] LATOURETTE, Keneth Scoth. Historia del Cristianismo. El Paso, Casa Bautista de Publicaciones, 1967, Tomo II, pg. 175.
[10] feitas declarações doutrinárias que esclareçam os espíritos, dissipem dúvidas e reafirmem posições.
[11] PEREIRA, op. cit, pg. 7,8.
[12]https://protestanteonline.wordpress.com/2017/01/19/a-origem-dos-batistas/
[13] NEVINS, W.V. O Batismo Estranho e os Batistas. Campinas, Editora Gráfica Batista, 1954, -g. 47.
[14] LATOURETTE, op. cit, pg. 138.
[15] PEREIRA, op. cit, pg. 7-9.
[16] PEREIRA, op. cit. Pg. 8.