Religião e Utopia Política

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Religião e Utopia Política

RELIGIÃO E UTOPIA POLÍTICA

Introdução

A inegável participação de uma parte dos evangélicos na campanha eleitoral e depois no governo de Bolsonaro gerou e continua gerando, mais uma vez, a discussão do tema sobre qual deve ser a relação entre política e religião. Se antes uma parcela dos cristãos defendia claramente a separação entre religião e política, mesmo que religiosos participassem de partidos e fossem eleitos, cada vez mais percebeu-se um projeto intencional de ter um maior número de religiosos nas esferas do poder político para exercer influência nos direcionamentos legais e governamentais.

A origem desse projeto não pode ser dissociada do que chamamos de “teologia social”, que em outras palavras significava não apenas a transformação do indivíduo, mas principalmente a transformação da sociedade. Se as estruturas complexas da sociedade não forem modificadas, o processo de conversão individual não logrará êxito no estabelecimento do Reino de Deus na terra.

A mais expressiva vertente dessa teologia social foi a Teologia da Libertação. Era um movimento teológico que buscou levar os pobres e oprimidos a lutar por seus direitos através de uma análise crítica da realidade social. Embora seja mais conhecida no meio católico, suas origens estão entre evangélicos norte-americanos no que se conhecia como Evangelho Social e Teologia da Esperança.

É evidente que, na teoria, as estruturas sociais somente serão transformadas se os cristãos participarem ativamente da política, seja no legislativo, seja no executivo. Os valores e princípios cristão somente poderão ser implementados se os representantes forem cristãos que exerçam influência.

A partir dessa consciência, seja através da associação com o marxismo, seja através do evangelicalismo protestante, tradicional, pentecostal ou neopentecostal, muitos buscam mudança social. Se a Teologia da Libertação associada ao marxismo não permaneceu, os evangélicos em suas várias vertentes passaram a buscar cada vez mais fortalecer sua influência na política. Esse fato pode ser comprovado no número cada vez maior de políticos cristãos nas várias esferas, chegando ao ponto de existir o que se chamou “bancada evangélica” no Congresso.

Finalmente o clímax foi alcançado  quando Jair Messias Bolsonaro passou a expressar seu lado religioso, tanto lançando mão do slogan “Deus acima de todos” como também de participar de rituais (batismo e ceia), presença e pronunciamentos em cultos, apoio aberto aos pastores e sinalizar a indicação de um crente para o Supremo Tribunal federal, além de se cercar por auxiliares e militantes evangélicos, mesmo se declarando católico. Se por um lado ganhou alguns críticos cristãos, por outro lado, ganhou a simpatia da maioria, deixando os ateístas e agnósticos surpreendidos. Uma grande preocupação seria com o fato de o Estado deixar de ser “laico”, surgindo um poder político-religioso. Outra preocupação seria com a possibilidade de as novas políticas culturais em favor das minorias encontrarem resistências, principalmente os pleitos em favor dos homossexuais, da ideologia de gênero e dos novos modelos familiares. O conservadorismo iria vencer o liberalismo.

Desenvolvimento

  1. Para desfazer a suposição de que essa aliança entre política e religião seria um fenômeno contemporâneo brasileiro, influenciado pelos religiosos que apoiaram e apoiam Bolsonaro e por Bolsonaro que apoia os religiosos, nada é mais instrutivo do que lançar mão da história antiga e recente.

1.1. Grécia. “A verdade é que a religião grega estava presente e regulamentava todos os aspectos da vida. Não havia guerra ou fundação de colônias, promulgação de leis ou tratados, ajuste de matrimônios ou contratos, que não necessitasse da proteção de uma divindade, cuja atenção era solicitada com os atos de culto adequados e os sacrifícios necessários. (SANTOS, 2010). Não havia nenhum ato de convivência entre cidadãos, desde a festa à assembleia, que não fosse consagrado à divindade de quem se esperava proteção e benevolência (VERGETTI, 1994). O religioso estava incluído no social e, reciprocamente, o social, em todos os seus níveis, era penetrado pelo religioso (VERNANT, 2002 e 2006)”

(https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/reflexao-filosofica-sobre-a-influencia-da-religiao-na-vida-social-e-politica-ao-longo-da-historia.htm#indice_7).

1.2. Roma. “A religião dos romanos era naturalista, terrena, ritualística, pragmática, tradicionalista, cujo objetivo fundamental era a obtenção dos favores dos deuses para eventos pontuais e, consequentemente, para a manutenção da pax deorum, quer dizer, a harmonia entre a comunidade e os deuses. (BAYET, 1984, p. 66). O pensamento politeísta permitiu a conciliação entre a união de uma divindade escolhida pessoalmente e o gesto convencional do ritual do Estado. Esta é uma entre outras indicações de que o ritual e não a crença era o centro da religião romana. (MENDES e OTERO, 2005) (https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/reflexao-filosofica-sobre-a-influencia-da-religiao-na-vida-social-e-politica-ao-longo-da-historia.htm#indice_7).

1.3. Idade Média. “O que se via era a influência direta da Igreja no convívio social e político da idade média, inclusive com limitação do conhecimento à sociedade, o que permitia a suserania social e impedia qualquer confronto das verdades postas pela Igreja. (VAINFAS, Ronaldo. et al, 2016)” (https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/reflexao-filosofica-sobre-a-influencia-da-religiao-na-vida-social-e-politica-ao-longo-da-historia.htm#indice_7).

1.4. Islamismo. Não é desconhecido pela maioria dos intelectuais que a conhecida República Islâmica nada mais é senão a aspiração de um grande número de seus adeptos em unir a religião e a p0olítica. “Teoricamente, para diversos líderes religiosos, a república islâmica é um Estado submetido a uma forma de governo teocrática

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_isl%C3%A2mica).

  1. Portanto, tanto na história antiga dos povos quanto na história recente brasileira, a relação entre religião e política sempre caminhou de mãos dadas. As pretensões de separar o Estado da Religião na era Moderna, principalmente para limitar a influência do catolicismo nas esferas político-governamentais, ainda não alcançou êxito e reaparece na atual relação entre Bolsonaro e os evangélicos.

Conclusão

É impossível não perceber claramente que o “bolsonarismo” não é apenas uma reação dos antipetistas, antissocialistas e anticomunistas, que não querem a ideologia marxista sequer rondando as diretrizes nacionais, principalmente depois da experiência do PT no governo.

É impossível não perceber ainda que o “bolsonarismo” não é apenas uma oportunidade para militares chegarem ao poder político da nação, tanto implementando um exemplar estilo de vida, quanto dando fim a interpretações negativas sobre o governo militar pós 1964.

O bolsonarismo também é um fenômeno que mostra muitos cristãos evangélicos vendo em Bolsonaro, através de sua inclinação e sensibilidade religiosa, influenciado por sua esposa crente, a imperdível oportunidade de ver a transformação do Brasil. Uma mudança não apenas através das conversões individuais que crescem a cada dia, porém principalmente através da transformação de estruturas sociais que cada vez mais estão levando o país para negação de valores e princípios cristãos. Muitos desses cristãos e seus líderes acreditam que através de Jair Messias Bolsonaro o Brasil poderá ser de Jesus Cristo e também seguir seus ensinos.

Esta é a utopia politica do bolsonarismo.

Edson Raposo Belchior, autor.