DONS ESPIRITUAIS NO SERVIÇO CRISTÃO
Introdução
Há algum tempo, o Instituto Data Folha entrevistou 1.541 pessoas em 168 cidades do país, abordando quais seriam os assuntos mais importantes para elas. Os assuntos foram: casamento, família, morte, sexualidade, emprego, política, participação na igreja. A pesquisa constatou, naquele momento, entre outros resultados, que 40% do total de entrevistados desejavam ter um emprego bom e decente.
O que me chamou a atenção nessa pesquisa, razão porque a estou mencionando, é que 39% das pessoas declararam trabalhar também na igreja que participavam como voluntários. Então, o comentarista da entrevista escreveu: “A igreja é a organização em que mais atuam”[1]. Ficou claro que, mesmo desejando exercer uma atividade profissional no mercado de trabalho, muitas pessoas já descobriram a importância de trabalhar na igreja que frequentam.
Por outro lado, mesmo que muitas pessoas tenham esse interesse, a Lifeway Christian Resources informou, também como resultado de pesquisa, que “há uma lacuna entre os fiéis que dizem querer participar de um trabalho voluntário e aqueles que de fato o fazem”. Neste caso, não estava se referindo a exercer alguma atividade profissional como funcionários no ambiente das igrejas, mas o de realizar serviço voluntário cristão. Nessa pesquisa realizada nos Estados Unidos, que também pode ser constatada no Brasil, foi identificado que “entre os grupos denominacionais cristãos, os luteranos foram os que mais relataram voluntariado em um grupo no último ano (53%), seguidos pelos batistas (29%), membros da Igreja de Cristo e afiliados a igrejas não denominacionais (ambos com 28 %) e metodistas (7%)”[2]
Voluntariado
É notório o aumento do serviço voluntário em todo o país, seja em atividades contínuas, seja em eventos ocasionais. A Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021 constatou que “56% da população adulta diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Em 2011, esse número representava 25% da população e, em 2001, apenas 18%. Chama atenção também o número de voluntários ativos no momento da pesquisa – 34% dos entrevistados, o que representa cerca de 57 milhões de brasileiros comprometidos com atividades voluntárias”[3]. Os serviços arrolados são atender a necessidades de vizinhos, de moradores de rua, de enfermos nos hospitais e casas de saúde, de crianças desamparadas, de idosos em asilos, de prevenção de suicídios, de animas abandonados, de vítimas de catástrofes, de projetos sociais. Para esses serviços, os voluntários precisam preencher exigências naturais dos serviços nos quais venham a se engajar, inclusive dedicação, comprometimento e amparo legal. Ocorre, todavia, que a atitude de servir na igreja tem mais outras exigências, principalmente exigências espirituais.
Dons espirituais
Eu creio que foi no objetivo de explicar sobre os requisitos para trabalhar na igreja local que o apóstolo Paulo escreveu sobre os dons espirituais. Em outras palavras, o que estou afirmando é que para pessoas servirem a Deus precisam ter mais do que talento natural ou capacitação acadêmica ou amparo legal. Não basta apenas que adquiram habilidades e eficiência exigidas no serviço voluntário e no mercado de trabalho. Não é resultado apenas de talento natural ou competências adquiridas.
Para que a obra do Senhor seja inegavelmente espiritual, ela precisa ser resultada da plenitude do Espírito Santo na vida do crente em Jesus Cristo e da concessão dos respectivos dons úteis e necessários à obra. Nesse sentido, além dos textos que tratam de dons espirituais em Romanos e Efésios, eu gosto muito da abordagem em I Coríntios 12.1-7 por várias razões, que saliento agora para aqueles que estão sendo motivado a trabalhar na igreja: a) Não existe apenas um dom espiritual, isto é, um tipo de serviço que se presta a Deus. Ainda que o Espírito Santo seja um só, as capacitações são diversas. (12.4-6); b) Os dons são concedidos para o que for útil ou necessário numa igreja e não para exibição de superioridade ou poder espiritual; c) Se não existe uma demanda que precisa ser atendida então o dom não é concedido (12.7); d) Quem decide o dom que será outorgado é o Espírito Santo, mesmo que o crente tenha vontade de receber este, aquele ou aquele outro dom (12.11).
Descoberta
Penso que uma das razões pelas quais a vontade de servir na igreja e a atitude efetiva de servir deixa uma lacuna já constatada nas pesquisas é a ausência de uma percepção de qual seja o dom que o crente tem, concedido pelo Espírito Santo. Para desfazer essa lacuna, uma das ferramentas já colocadas à disposição das igrejas é o Inventário dos Dons Espirituais. O pressuposto dessa ferramenta é que o Espírito Santo concede dons que estejam sendo necessários na igreja local, mas não foram identificados pelos membros da igreja. É fato que dons espirituais concedidos a uma pessoa podem ser descobertos de modo natural, ao se envolver num determinado trabalho na igreja e perceber que tem determinado dom. Se ele não consegue realizar a tarefa, naturalmente conclui que não tem dom para o serviço sugerido. Todavia, ao realizar o Inventário dos Dons Espirituais, o crente tem mais possibilidades de descobrir sua capacitação, através de testes didáticos. Ao responder as perguntas dos testes, logo terá a percepção de sua capacitação. Dentro das páginas do Novo Testamento existem cerca de 20 dons arrolados em Romanos 12, I Coríntios 12, Efésios 4, I Pedro 4. Além de livros que publicam esses inventários, vários sites também divulgam alguns deles, em PDF ou online.
Benefícios
Por mais que exercer uma atividade profissional, de acordo com a vocação, possa proporcionar realização pessoal, o serviço prestado a Jesus Cristo numa igreja local também proporciona satisfação espiritual. Entre os vários benefícios, podemos destacar alguns deles: a) O serviço cristão proporciona sentimento de utilidade, dando valor à existência e levando a pessoa a ouvir a voz do Espírito dizendo: “Servo bom e fiel” (Mateus 25.21,23); b) O serviço cristão faz com que os propósitos da igreja sejam efetivamente alcançados em sua pluralidade, tornando-a conhecida na sociedade e até no mundo, conforme Paulo escreveu a uma igreja: “Antes de tudo, sou grato a meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vocês, porque em todo o mundo está sendo anunciada a fé que vocês têm” (Romanos 1.8): c) O serviço cristão é o único que acompanha o crente em sua salvação eterna, demonstrando sua dedicação a Deus aqui neste mundo, conforme promessa feita: “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem” (Apocalipse 14.13).
Conclusão
Tendo desejo de trabalhar para Deus na igreja local e o fazendo com base em dons espirituais, os crentes certamente não irão ganhar dinheiro, nem status social e nem medalhas por alcançar metas. Todavia podem viver experiências de valorização diante de Deus, de sentimento interior de dever cumprido e de ter praticado as boas obras recomendadas por Jesus Cristo. Quer sirvam na igreja local com maior dedicação por dispor de tempo, quer sirvam ocasionalmente, quando tem o tempo livre para isto, os crentes que descobrem seus dons e os colocam no serviço de Deus voluntariamente terão mais uma confirmação de que são dirigidos pelo Espírito Santo.
Autor: Edson Raposo Belchior
BIBLIOGRAFIA
NETO, Costa. Amar e Servir. São Paulo, Edições Vida, 2018.
DURIGON, Lucas. Dons Espirituais. São Paulo, Amazon, 2015.
HYBELS, Bill. A Revolução do Voluntariado. São Paulo, Editora Vida, 2013.
Storms, SAM. Entendendo os Dons Espirituais. USA, Editora Thomas Nelson, 2024.
[1] Jornal A Gazeta, 29/07/2008, pg. 4.
[2] https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/maioria-dos-fieis-nao-servem-em-suas-igrejas-aponta-pesquisa.html
[3] https://www.idis.org.br/o-brasil-conta-com-57-milhoes-de-voluntarios-ativos-segundo-pesquisa-voluntariado-no-brasil-2021/