Ponderando a Educação Teológica Batista

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Ponderando a Educação Teológica Batista

PONDERANDO A EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BATISTA

Introdução

         Durante muitos anos, a prática do ensino teológico batista no Brasil foi feita através dos três grandes seminários que tinham sido organizados por iniciativa de missionários americanos e depois incorporados pela Convenção Batista Brasileira: o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio de Janeiro, RJ), Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (Recife, PE) e Seminário Batista Equatorial (Belém, PA). A principal motivação foi expressa por Salomão Ginsburg, que escreveu na época: “Irmãos, se o Brasil deve ser convertido, será somente através de brasileiros. Portanto, permitam-nos preparar homens assim, que, em um futuro próximo, possam ser capazes de tomar os nossos lugares. Eu insisto nisto de todo o meu coração e alma”[1].

         Passados os anos, a mesma iniciativa passou a ser expressa por vários líderes batistas em seus respectivos Estados, quando perceberam que o crescimento das igrejas precisava ser acompanhado pelo crescimento do número de pastores que também fossem preparados e capacitados por seminários estaduais. As cidades estavam crescendo aceleradamente como consequência do êxodo rural, novas congregações estavam sendo abertas nos novos bairros que surgiam e mais pastores precisavam ser formados para atender a demanda.

         Comentado o fenômeno numa edição do Jornal Batista em 1988, o Pastor Nilson Dimarzio escreveu: “Vale lembrar, nesta data, intercedendo junto a Deus, dos seminários que anualmente entregam à denominação expressivo número de jovens preparados para as lides ministeriais. O mais antigo dos seminários batistas brasileiros é o de Recife, hoje chamado Seminário Teológico Batista do Norte, fundado em 1902. O Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil começou em 1908. Cerca de sessenta anos mais tarde foi criado o Seminário Teológico Batista em Belém do Pará, que antes havia funcionado como Instituto Bíblico... Mas vários outros Seminários, Faculdades Teológicas e Institutos Bíblicos foram estabelecidos pelas Convenções Estaduais ou por igrejas, sendo que o número de tais instituições deve estar em torno de 25, com um total de alunos matriculados por volta de 5.000, já que não dispomos de estatística atualizada a respeito”[2].

         A Associação Brasileira de Instituições de Ensino Teológico (ABIBETE), em seu relatório de janeiro de 1989, informou números com mais precisão: “Há no Brasil 48 instituições batistas que oferecem ensino teológico. Destas, apenas 27 estão filiadas à ABINETE[3]. Os atuais registros da ABIBETE informam  em 2023 o número de 44 instituições filiadas”[4]. Na medida em que mais e mais congregações foram surgindo, igrejas organizadas e jovens vocacionados, o surto do crescimento tem sido impressionante.

  1. Preparo e Capacitação

A fim de os vocacionados tivessem o melhor preparo e capacitação possível para o ministério pastoral, os três primeiros grandes seminários praticavam o ensino teológico em caráter de internato. A ideia era de que os vocacionados tivessem o ensino em sala de aula e o completassem em pesquisas na biblioteca, utilizando o maior tempo possível para adquirir conhecimento e competências, além da convivência com os professores e uns com os outros no intercâmbio de experiências. Os efeitos dessa estratégia foram a inegável qualificação da maioria daqueles que se formaram através desses critérios, o êxito deles no exercício do ministério pastoral e o crescimento espiritual, doutrinário e numérico das igrejas batistas no Brasil.

Com o surgimento dos seminários organizados por igrejas, associações e convenções, ainda que os mesmos objetivos permanecessem, a carga horária dedicada a esses objetivos sofreu alterações. O ensino em sala de aula passou a ser no período noturno, sem internato e com alunos cansados pelas atividades profissionais diárias.  A biblioteca teve menos livros e tempo para serem usada pelos alunos. O intercâmbio de experiências uns com os outros e com os professores perdeu bastante no menor tempo disponível. Como consequência desses fatos, alguns observadores tem se perguntado em que grau eles teriam afetado a capacitação dos vocacionados e seus respectivos ministérios junto às igrejas locais quanto à identidade denominacional, à atividade evangelística, à integração dos novos crentes, à edificação dos membros, ao crescimento e à multiplicação de igrejas.

Ilustrando a análise do problema levantado na formação oferecida pelos seminários e faculdades teológicas, o que tem ocorrido da mesma maneira no ensino oferecido pelas universidades seculares não poderia ser ignorado. Nesse sentido, Arilda Schmidt Godoy denunciou o fato de que o crescimento das universidades seculares afetou a formação dos alunos: “Parece evidente que a expansão do ensino superior apresenta sérias implicações quanto á sua qualidade, uma vez que influi diretamente em vários aspectos, inclusive no número de docentes necessários à manutenção do sistema”[5]. Se tal consequência aconteceu nas universidades seculares, certamente teriam acontecido nos seminários e faculdades teológicas, seja em relação ao número de professores capacitados, seja na qualidade de aprendizagem dos vocacionados e de suas competências para o ministério pastoral junto às igrejas.

Ainda ilustrando com o que ocorreu nas universidades seculares, é necessário, no entanto, ponderar com Paul Klapper: “As classes numerosas, os professores inexperientes, as longas horas de trabalho e o peso das tarefas que lhes são impostas, não constituem as causas profundas da mediocridade do ensino atualmente ministrado em nossas universidades e colégios; essas são, sobretudo, causas secundárias, que se acrescentam a outras, cujos efeitos contribuem para ampliar”[6]

  1. Esforço individual

Pensando nessas outras causas, de acordo com a ponderação de Klapper, que também prejudicam o desempenho final dos vocacionados, é preciso incluir o esforço que cada aluno deve fazer para alcançar seu objetivo de capacitação pessoal na sua formação acadêmica. Principalmente em nosso meio, esse esforço individual é a contra partida da multiplicação dos seminários e faculdades teológicas para atender a inevitável demanda do crescimento da denominação e de suas igrejas.  É preciso, portanto, igualmente considerar que também cada aluno é responsável por seu desenvolvimento acadêmico e espiritual, quer tenha estado estudando em regime de internato, quer esteja estudando em regime de externato. É publico e notório os exemplos de alunos de internato que não atenderam às expectativas, assim como os exemplos de alunos de externato que tem superado as dificuldades e se sobressaído nas igrejas e na denominação. Aliás, a bem da verdade, não há mais como deixar de creditar aos vocacionados formados nos seminários e faculdades estaduais o êxito da denominação e das igrejas locais na atualidade.

Corroborando com esse pensamento, “MIRA Y LÓPEZ (1968) defende que é possível “estudar sem aprender” e “aprender sem estudar” e REZZANO (1987) alicerça esta idéia quando associa o aprender a uma decisão pessoal do aluno: “O sonho dourado de todos os estudantes, de aprender sem estudar, não é um mito: a fixação espontânea de conhecimento se realiza sempre que no ato de aprender intervém o interesse ou a emoção, ou ambos juntos” [7]. Em última análise, o que se quer dizer é que o aluno deve ser o protagonista do processo de ensino e aprendizagem, como sujeito da ação de estudar e se capacitar individualmente. Neste modo de pensar, o aluno “desempenha um papel ativo na construção do próprio aprendizado. Sendo assim, ele assume o papel de protagonista, interferindo diretamente no seu desenvolvimento”[8].

Resumindo, não é o seminário ou faculdade teológica que faz o aluno. É o aluno que se esforça para superar as limitações para  galgar o pedestal de qualificação e exercer o ministério pastoral na igreja local e na denominação.

 

Conclusão

Se houve uma época quando os vocacionados podiam ter o privilégio de um internato para estudar, essa época já passou, pois até nos primeiros seminários o estudo também é em tempo parcial, além até mesmo dos estudos feitos à distância.

Permanece a necessidade dos professores estarem à altura para ministrar as aulas, sejam presenciais, semipresenciais ou à distância. Quanto mais capacitados, mais podem influir na formação dos alunos.

Os vocacionados, todavia, são os que têm sobre si a responsabilidade de se esforçar para superar limitações, suprir necessidades e alcançar desenvolvimento de modo completo na aquisição de habilidades necessárias ao ministério pastoral e às demandas das igrejas e da denominação, seja  durante os primeiros anos quando estão iniciando seus estudos teológicos, seja nos anos posteriores e ao longo da vida, como autodidatas ou em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado. É preciso estudar sempre!

 

Autor: Edson Raposo Belchior

 

[1]https://www.fabapar.com.br/blog/educacao-teologica-e-sua-parte-no-cumprimento-de-missao/

[2] DIMÁRZIO, Nilson. Educação Teológica. Editorial no Jornal Batista, 20/11/1988, pg. 3.

[3] FERREIRA, Ebenezer Soares. ASTE. Livro de Atas e Pareceres da CBB da 70ª Assembleia Anual em Fortaleza (CE),  pg. 519.

[4] http://www.abibet.org.br/

[5] GODOY, Arilda Schmidt. Didática para o Ensino Superior. São Paulo, Iglu Editora, 1988, pg. 16.

[6] KLAPPER, Paul. In GODOY, op.cit., pg. 33.

[7]https://sites.google.com/site/geacufrjpublico/textos-basicos/o-aluno-o-estudar-e-o-aprender

[8] https://escoladainteligencia.com.br/blog/aluno-no-centro-da-aprendizagem/