CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIVÓRCIO CRISTÃO
Introdução
Vez por outra, ecoam-se vozes aqui, ali e acolá afirmando que o casamento está acabando e que as famílias irão desaparecer. O modelo constituído de pai, mãe e filhos estaria ficando ultrapassado e sem nenhum futuro. Fazendo coro com essas vozes, estão cientistas sociais, psicólogos e conselheiros matrimoniais. Seja através de livros, jornais, palestras, canais de rádio e televisão, mídias sociais a notícia tem corrido o mundo, com pouquíssimas contestações e sendo aceita culturalmente, salvo no meios religiosos cristãos. Naturalmente, os casais infelizes, os filhos desajustados e as famílias esfaceladas têm sido usadas como evidências do fato, servindo de amostragem para uma realidade maior. A sentença é de que a família é uma instituição em vias de desaparecimento e o casamento tradicional uma experiência a ser substituída por outros tipos de relacionamentos.
- As estatísticas gerais
Embora devêssemos identificar essa mensagem como exagerada, sendo expressão de casos limitados, posições filosóficas e influência maligna na sociedade, não se pode negar o que as estatísticas estão informando. É verdade que não se pode afirmar que o modelo familiar tradicional está desaparecendo e que o casamento está em vias de ser definitivamente substituído, entretanto não se pode ignorar o que os números das estatísticas estão mostrando. Realmente as taxas de divórcio estão crescendo e até mesmo entre os cristãos.
Segundo estatísticas, “o número de divórcios no Brasil cresceu 8,6% em 2022 na comparação com 2021, de 386.813 para 420.039. Foram 340.459 realizados por meio judicial e 79.580 de forma extrajudicial”[1]. É impressionante o número comparativo: “Quarenta anos após a instituição da lei do Divórcio no Brasil, um a cada três casamentos termina em separação no país. É o que mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”[2] Os motivos apresentados para esse crescente número de divórcios são os mais variados, inclusive a flexibilização legal para que seja obtido.
- Estatísticas religiosas
Mesmo com o posicionamento radical de que o cristão deve ser contrário ao divórcio, inclusive sem direito a um novo casamento, o número de separações matrimoniais entre religiosos também está crescendo e mostrando que suas crenças não estão sendo suficientes para lidar com os motivos que experimentam para pedir o divórcio. Em estudo realizado pelo Barna Group, foi constatado “que o percentual de divorciados, 25%, é o mesmo entre evangélicos, católicos e pessoas de outras religiões ou sem afiliação religiosa”[3]. De acordo com dados do IBGE, o número de evangélicos separados, desquitados e divorciados em 2000 era de 8,6% e no ano de 2010 o número chegou a 10,7%[4]. Estes números mostram que o propósito divino para o casamento não estaria sendo alcançado também pelos cristãos.
- O propósito divino
Entendendo que “a priori” o propósito de Deus quanto ao casamento estaria estendido a todas as famílias de todos os povos, independentemente de suas variações culturais dos rituais nas cerimônias, o que foi confirmado por Jesus Cristo em seus ensinos, constata-se, todavia, que somente os povos cristãos têm considerado o propósito de uma vez unido pelo matrimônio, o casal deve permanecer unido para sempre (Marcos 10.6-9).
Ocorreu, no entanto, ao longo dos tempos, que esse propósito não conseguiu ser alcançado pela humanidade, inclusive pelos hebreus e pelos cristãos. Ainda nos dias de Moisés, considerando a realidade do que estava acontecendo, a legislação estabelecida para os hebreus abriu a possibilidade do casal se separar com a respectiva carta de divorcio, considerando como motivo “coisa indecente” (Deuteronômio 24.1). Uma vez sendo abordado sobre o assunto, Jesus Cristo acrescentou a possibilidade do casal se separar, considerando como motivo a “πορνεία” – porneía – qualquer relação sexual ilícita (Mateus 5.32). Paulo apóstolo acrescentou a possibilidade de incluir mais um motivo para o casal se separar, considerando a incompatibilidade religiosa (I Coríntios 7.15,16). O ideal da indissolubilidade estabelecido por Deus e confirmado por Jesus Cristo não resistiu à realidade da natureza humana em sua “dureza de coração”.
- Multiplicação dos motivos
Os motivos aceitos por Moisés, Jesus Cristo e Paulo não foram suficientes para justificar os divórcios entre os povos e também entre os religiosos cristãos. Consequentemente, outros motivos passaram a ser apresentados e aceitos pelas autoridades e igrejas. A relação desses motivos menciona incompatibilidade de gênios, expectativas diferentes, dificuldades na comunicação, vícios variados, questões financeiras, desemprego, infidelidade sentimental, abuso sexual, indiferença afetiva, violência diversificada, doenças graves, disfunções sexuais, gravidez precoce, idade prematura, traumas pessoais, cultura progressista.
Em todos os motivos apresentados para justificar o divórcio, o que prevalece como determinante são a necessidade e o desejo das pessoas, ignorando o propósito de Deus ou desconhecendo esse propósito ou interpretando que o propósito de Deus é flexível diante da realidade humana, à luz principalmente da sua graça e que leva as pessoas a dizerem: “Deus me compreende”.
Às vezes existe um esforço para considerar o propósito de Deus, ocasião quando as pessoas recorrem a orações e intercessões, perdão contínuo, aconselhamento espiritual, psicoterapias e promessa de novas atitudes. Todavia, o fracasso dessas tentativas torna o divórcio inevitável, restando somente a alternativa de permanecerem sozinhos ou experimentarem um novo casamento.
Conclusão
Mais do que emitir juízo de valor e se precipitar em julgamentos sobre as pessoas que lançam mão do divórcio, o máximo que se pode considerar na atitude de alguém recorrer à separação matrimonial é o significado da pergunta que fizeram a Jesus Cristo, quando o abordaram sobre o assunto. A pergunta formulada dizia: “É correto o divórcio por qualquer motivo?” (Mateus 19.3). Jesus respondeu apontando para o ideal da indissolubilidade do casamento à luz da vontade de Deus e abriu a exceção para um motivo que considerou justificável. Com esta atitude, Jesus Cristo mostrou tolerância para com o divórcio e mostrou que o divórcio não deve ser feito com base em qualquer motivo, mas tendo como fundamento aqueles motivos que serão compreendidos por Deus em sua misericórdia e graça.
Edson Raposo Belchior, autor.
Bibliografia
CHAPMAN, Gary. As Cinco Linguagens do Amor. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1997.
DAM, Cornelis Van. Divórcio e Novo Casamento. Paraná, Editora Clire, 2021.
DUTY, Guy. Divórcio e Novo Casamento. Venda Nova: Editora Betânia, 1978.
HINDSON, Edward E. A Família Total. Rio de Janeiro> Juerp, 1981.
LAHAYE, Tim. Casados, Mas Felizes. São Paulo: Editora Fiel, 1975.
PIPER, Jonh. Preparando-se para o Casamento. São José dos Campos, Editora Fiel, 2013.
[1]https://exame.com/brasil/numero-de-divorcios-no-brasil-bate-recorde-e-chega-a-420-mil/
[2]https://veja.abril.com.br/brasil/um-a-cada-tres-casamentos-termina-em-divorcio-no-brasil#google_vignette
[3]https://noticias.gospelmais.com.br/divorcios-evangelicos-igualou-sociedade-88508.html
[4]http://www.realp.unb.br/jspui/bitstream/10482/18345/1/2014_TimoteoMadalenoVieira.pdf