Reações Espirituais aos Cataclismas

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Reações Espirituais aos Cataclismas

REAÇÕES ESPIRITUAIS AOS CATACLISMAS

 

Diante do último cataclisma que está ocorrendo no Estado do Rio Grande do Sul, em nosso país, quando as últimas notícias informam que quase todas as cidades foram atingidas, uma série de atitudes estão sendo tomadas por parte das autoridades governamentais e da população civil do Rio Grande do Sul e de outros Estados, além das consequentes exigências quanto ao que será feito nos próximos dias e meses em caráter de recuperação e de prevenção. De imediato, a atitude mais importante é salvar vidas, resgatando-as das situações de perigo, vindo em seguida o resgate de animais. Consequentemente espaços físicos estão sendo preparados, para receber essas pessoas, proporcionando segurança, atendimento médico e psicológico, além de lhes dar alimento, água e material de limpeza e outras coisas necessárias. Assim que o nível das águas voltar ao normal, a atitude prevista será reconstruir as moradias, empresas, organizações e instituições, além, de restabelecer o sistema econômico, político, militar, judicial e outros pertinentes. Tudo a médio e longo prazo, até que a vida volte ao normal. No resumo das reações humanas diante do cataclisma, são registradas: solidariedade, empatia, cooperação, doação, entrega, sacrifício, compreensão.

O que deixou de ser registrado, na pauta das atitudes diante do que ocorreu, são as reações espirituais que também deveriam fazer parte do comportamento das pessoas, ao terem sido terrivelmente atingidas em todos os aspectos, isto é  arrependimento e conversão . Nesse sentido, acontece com essas pessoas as mesmas atitudes registradas ao se abrir as páginas da Bíblia e encontrar relatos de acontecimentos semelhantes. Foi o que aconteceu na época do profeta Amós, quando vários cataclismas foram mencionados e o povo não arrependeu e nem se converteu. “Por isso também vos dei limpeza de dentes em todas as vossas cidades, e falta de pão em todos os vossos lugares; contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor.  Além disso, retive de vós a chuva quando ainda faltavam três meses para a ceifa; e fiz que chovesse sobre uma cidade, e não chovesse sobre a outra cidade; sobre um campo choveu, mas o outro, sobre o qual não choveu, secou-se.  E andaram errantes duas ou três cidades, indo a outra cidade para beberem água, mas não se saciaram; contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor.  Feri-vos com queimadura, e com ferrugem; a multidão das vossas hortas, e das vossas vinhas, e das vossas figueiras, e das vossas oliveiras, comeu a locusta; contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor.  Enviei a peste contra vós, à maneira do Egito; os vossos jovens matei à espada, e os vossos cavalos deixei levar presos, e o mau cheiro dos vossos arraiais fiz subir às vossas narinas; contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor. Subverti a alguns dentre vós, como Deus subverteu a Sodoma e Gomorra, e vós fostes como um tição arrebatado do incêndio; contudo não vos convertestes a mim, disse o Senhor” (Amós 4.6-11). Mesmo no agudo e atroz sofrimento diante de tanta desgraça, as pessoas não reagiam espiritualmente com arrependimento e conversão. Infelizmente, em nossos dias, observa-se o mesmo comportamento e até pior, pois em consequência dos sofrimentos não faltam pessoas perguntando onde está Deus que permite toda essa tragédia, aumentando até mesmo a incredulidade, a revolta contra Deus e o ateísmo.

 

  1. Uma situação repetida.

A esta altura, alguém poderia dizer que ainda é cedo para analisar o surgimento ou não dessas atitudes espirituais, pois a enchente ainda está acontecendo e as pessoas ainda estão desnorteadas. Ocorre, todavia, que a ocorrência de enchentes em Porto Alegre é um fato que se repete. De acordo c com o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) esta é uma enchente na sequência de outras anteriormente ocorridas. Em 1928 a enchente alcançou 3,2 m de altura; em 1936, foram 3,25; em 1941 foram 4,74m de altura e em 1967, foram 3,13m de altura. Também foram registradas enchentes em setembro e novembro de 2023[1]. Em outras palavras, sob a ótica teológica, à luz da pregação de Amós, não faltaram ocasiões para as pessoas se arrependerem e se converterem.

Para apurar os resultados espirituais de todos esses cataclismas, faz-se necessário verificar os dados do IBGE, que  informou a respeito da situação religiosa do Estado do Rio Grande do Sul.  Segundo o Censo Demográfico de 2010,  68,5% se declararam católicos, 18,2% evangélicos (maioria luterana), 4,7 espíritas e umbandistas e 5,9% sem religião[2]. O que esses números mostram é uma religiosidade idólatra, sem compromisso, praticante da feitiçaria e muitos incrédulos (mais de 95%). Uma reportagem religiosa sobre o Estado do Rio Grande do Sul declarou que “segundo o antropólogo Norton Correa (2007), existem cerca de 30 mil terreiros em todo o Rio Grande do Sul, com maior concentração no município de Porto Alegre”[3]. A conclusão é que poucos seriam realmente seguidores de Jesus Cristo, mediante o arrependimento de pecados e a genuína fé nele exercida.

 

  1. Prevenção inútil

Na mensagem profética de Amós, ele dizia: “prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus”. Em vez de as enchentes produzirem esse mesmo alerta, o que elas produziram foi a reação de preparar um sistema humano de proteção através de muros e diques, isto é, elevações de concreto e de terra para impedir as águas do rio invadirem as cidades. O sistema é constituído por 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 23 casas de bombas espalhadas por Porto Alegre. Infelizmente, o sistema não funcionou, inclusive porque a altura da enchente no rio Guaíba chegou a 5,29 no dia 05 de maio. Em entrevista sobre o ocorrido, o Prefeito de Canoas, declarou: “Os diques são elevações de terra que formam uma espécie de muro que separa a cidade de rios, arroios ou áreas alagadiças. No entanto, como a água ultrapassou os diques de Canoas e ficou represada na cidade, se torna mais difícil para que ela volte ao curso normal. Nós temos diques, a água entrou para cá, agora vai demorar muito tempo, talvez 45, 60 dias, para tirar a água pro outro lado. Essa água não vai sair naturalmente, diferente de lugares que não tem diques, onde a água vai e volta. Aqui, passou e não retorna exatamente porque nós temos uma grande piscina”[4]. As outras muitas cidades que também sofreram enchentes não tinham sistema de proteção de diques. As águas dos rios subiram e as cidades ficaram alagadas. Os que não se prepararam humanamente viveram a mesma tragédia dos que se prepararam humanamente.

 

Explicações científicas

Como a ciência se desenvolveu e muito do que não podia ser explicado pela religião passou a ter explicações científicas, o resultado acabou contribuindo para diminuir a espiritualidade de muitas pessoas. Enquanto no passado, os fenômenos climáticos eram interpretados como manifestações ou permissões do agir de Deus em sua soberania sobre a natureza, com o avanço da ciência tais interpretações perderam seu valor.

Basta pensar, por exemplo, no cataclisma ocorrido sobre Porto Alegre. “Levantamento feito por pesquisadores de cinco universidades da Europa e dos EUA analisou o padrão histórico de eventos meteorológicos na região desde 1979. O estudo comparou os padrões de eventos registrados de 2001 a 2023 com os ocorridos de 1079 a 2001 e constatou que fenômenos como o El Niño não explicam a chuva anormal que atingiu o Rio Grande do Sul. "Embora o El Niño possa ter favorecido a forte precipitação, não explica as mudanças associadas a este evento quando se comparam os períodos passado e presente. Interpretamos as enchentes no Brasil como um evento cujas características locais podem ser atribuídas principalmente às mudanças climáticas provocadas pelo homem “[5].

Um climatologista explicou cientificamente assim: “Os contrastes entre a onda de calor no centro do Brasil e o ar frio de origem antártica ao sul, associado a ciclones extratropicais, favorecem eventos extremos em um planeta mais quente. Pelo trabalho de investigação em eventos extremos que estamos fazendo nos últimos 20 ou 30 anos no Rio Grande do Sul, já era previsto que a mudança climática se somasse aos fatores naturais, intensificando eventos climáticos e meteorológicos extremos no mundo e em especial no Sul do Brasil”[6].

O que essas explicações científicas proporcionam é a informação de como os fenômenos ocorrem, mas sem a Bíblia essas informações deixam de associar os fenômenos com as ações ou permissões de Deus sobre a natureza. Basta lembrar a desgraça que caiu sobre a família de Jó. O relato de uma pessoa na época informava: “Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova” (Jó 1.19). O escritor bíblico abriu as cortinas por trás do evento e mostrou um diálogo entre Deus e Satanás, explicando que o fenômeno tinha sido provocado por Satanás, mediante a permissão de Deus. Nesse enredo havia uma expectativa sobre qual seria a reação espiritual de Jó diante do cataclisma. O livro mostrou ao longo dos capítulos uma atitude de confiança de Jó em Deus, o que lhe proporcionou uma reversão dos acontecimentos e da história.

Outro episódio esclarecedor sobre as alterações na natureza tendo como autor o poder de Satanás foi registrado na história de Davi, comparando os livros de II Samuel e I Crônicas, cujo efeito foi uma grande praga com a morte de milhares de pessoas. O texto de Samuel diz que “a ira do Senhor” se manifestou e o texto de Crônicas explica que essa “ira do Senhor” era manifestação de Satanás (I Crônicas 21.1; II Samuel 24.1). A interpretação é que a as manifestações da ira de Deus sobre a humanidade como seu juízo se manifesta através de ações de Satanás, que são permitidas por Deus.  

 

Conclusão

         Por trás das alterações climáticas existe a soberania de Deus dirigindo ou permitindo os acontecimentos, cujas explicações podem ser cientificamente naturais ou sobrenaturais. Na visão da Teologia do Velho Testamento, os cataclismas eram interpretados como juízo de Deus sobre a iniquidade dos homens. Considerando a Teologia do Novo Testamento, estamos na era da graça através do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário, quando ele recebeu o juízo de Deus sobre si, em relação a impiedade do mundo. Através da fé nele exercida, mediante o arrependimento dos pecados, os seres humanos podem ser salvos do juízo presente e do juízo futuro, embora a “ira de Deus permaneça sobre os que não creem” (João 3.36). Todavia, na descrição apocalíptica dos eventos que ocorrerão no planeta, através das 7 pragas, a visão futura de como as pessoas irão reagir, diante do sofrimento causado pelos cataclismas que virão, descreve blasfêmia e falta de arrependimento (Apocalipse 16.9, 11, 21).

         Inevitavelmente os crentes verdadeiros que estão nessas cidades no Estado do Rio Grande do Sul também estão passando pelos efeitos das enchentes porque ali estavam morando e trabalhando. A maneira de eles reagirem, porém, é de característica espiritual, clamando pela misericórdia de Deus em favor deles e de todo o povo, além das atitudes de solidariedade para com todos.  Estão lá, sofrendo os mesmos efeitos e sendo solidários também, mas esperando em Deus.

         Depois de tudo o que aconteceu no passado, do que está acontecendo no presente e do que irá acontecer no futuro, a expectativa de Deus é de que o povo reconheça seus pecados e creia em Jesus Cristo, a fim de ser abençoado neste tempo presente e principalmente na eternidade. A expectativa de Deus é de que desta vez, haja reações espirituais em massa, cujos resultados serão templos cheios de verdadeiros crentes em Jesus Cristo, reconhecendo que a idolatria, a feitiçaria e a incredulidade só trazem a manifestação do Satanás, inclusive alterando as forças da natureza.

 

Edson Raposo Belchior, autor.

 

 

 

[1] https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2024/05/6852256-como-o-sistema-nao-vedou-a-cheia-questiona-joel-goldenfum.html

[2] https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/06/numero-de-catolicos-cai-quase-7-no-rs-em-uma-decada-segundo-ibge.html#:~:text=Segundo%20o%20Censo%20Demogr%C3%A1fico%202010,2010%20%2D%20queda%20de%209%25.

[3] https://religiaoepoder.org.br/artigo/curiosidades-religioes-afro-brasileiras-no-rio-grande-do-sul/

[4]https://www.radiotarumafm.com.br/news-prefeito-de-canoas-diz-que-retirada-de-agua-da-cidade-pode-levar-de-45-a-60-dias-diques-foram-vencidos-pela-cheia

[5] https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/05/11/estudo-internacional-associa-chuvas-no-rs-a-mudancas-provocadas-pelo-homem.htm

[6] https://sul21.com.br/noticias/meio-ambiente/2024/05/estudo-internacional-indica-que-chuvas-no-rs-foram-intensificadas-por-mudancas-climaticas/