Esforços para União Internacional de Cristãos

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Esforços para União Internacional de Cristãos

ESFORÇOS PARA UNIÃO INTERNACIONAL DE CRISTÃOS

 Introdução

  1. Não se pode pensar na ideia de os cristãos estarem unidos em todo o mundo sem que não sejam lembradas as palavras de Jesus Cristo nesse sentido. Ainda durante seu ministério, à luz da realidade humana contrastada com a vontade de Deus, um dos seus pedidos ao Pai Celestial foi em favor da união de seus seguidores. Em oração, em pediu: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17. 20,21). Na continuidade desse desejo, o apóstolo Paulo escrevia às igrejas, recomendando: “Esforçai-vos, diligentemente, por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4.3)
  2. Essa união desejada por Jesus Cristo não aconteceu durante os primeiros séculos de existência e multiplicação das igrejas. Pelo contrário, o que se observou foi pequenas divisões das igrejas, desde as primeiras por motivo de disputa de liderança até as demais por motivos de conflitos doutrinários. Quanto mais o número de igrejas se multiplicou, também mais cisões ocorreram. A primeira das grandes divisões aconteceu em 1056, quando as igrejas chamadas de ortodoxas orientais se afastaram da igreja chamada católica romana, inclusive porque esta queria a união de todas as igrejas sob o seu guarda chuva, debaixo da pretensa autoridade do papa em Roma. Essa pretensão chegou ao clímax em 1960, com a criação do Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos, durante o Concilio Vaticano II, a fim de promover o ecumenismo católico[1]. Em seguida ocorreu a segunda grande divisão, conhecida como reforma protestante, da qual surgiram a igreja luterana, a igreja anglicana, a igreja calvinista e a igreja metodista. De lá para cá, o processo do surgimento de novas igrejas, independentes das igrejas tradicionais e principalmente através do pentecostalismo, tornou inegável a desunião dos cristãos em todo o mundo. Aliás, é possível nominar o pentecostalismo como a terceira grande divisão da cristandade.

 1. Primeiros esforços de união

Com a proposta protestante de retorno às escrituras, naturalmente também foi lembrado o desejo de Jesus Cristo em que os cristãos fossem unidos. Por isso, em 1626, um pastor luterano com pseudônimo de Ruperto Meldenius publicou uma obra para que houvesse paz e unidade entre os cristãos, na qual ele dizia: “Se mantivéssemos a unidade no que é necessário, a liberdade no que não é necessário e a caridade em ambos, os nossos assuntos certamente estariam no melhor lugar” [2]. Ainda que estivesse pensando apenas na união dos reformadores, era uma proposta objetivando unidade de cristãos.

No século XIX, em 1846, mais um esforço surgiu com a criação da Liga Fraternal de Oração e Combate à Descrença, uma aliança evangélica objetivando formar um modelo de cooperação entre as diversas igrejas existentes[3]. Na sequência desse movimento e da cooperação na expansão missionária, foi realizada em 1910 a Conferência Mundial de Missões, em Edimburgo, Inglaterra. Buscava a cooperação com as igrejas evangélicas para uma ação missionária intensiva no mundo[4]. Sob a égide de fazer missões em cooperação, surgiu o Conselho Missionário Internacional, em 1921 e o Movimento Fé e Ordem, em 1927. Os dois movimentos se uniram e formaram em 1948, em Amsterdam, na Holanda, o Conselho Mundial de Igrejas, com a participação de 351 delegados e 147 denominações[5].

 2. Conselho Mundial de Igrejas

No dia 25 de junho de 2023, o Concilio Mundial de Igrejas realizou uma celebração ecumênica, em Genebra, na Suíça, representando 352 igrejas protestantes, ortodoxas, anglicanas, evangélicas, congregando cerca de 580 milhões de cristãos em mais de 120 países e trabalhando em cooperação com a Igreja Católica Romana[6].

A constituição original dessa organização rezava assim: “O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunhão das igrejas que aceitam nosso Senhor e Jesus Cristo como Deus e Salvador” [7]. Alterado em 1961, esse texto sobre a constituição passou a ter a seguinte redação: “O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunhão de igrejas que confessam o Senhor Jesus como Deus e Salvador, segundo as escrituras e por isso buscam cumprir em conjunto a sua vocação comum para glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”[8].

Após sua primeira assembleia em 1948, várias outras já foram realizadas em vários países. Embora sejam muitas as igrejas e denominações cristãs que fazem parte da organização, a igreja católica só mantém relacionamento com seus líderes e várias igrejas conservadoras não são filiadas porque discordam do CMI quanto a algumas de suas doutrinas mais liberais, por suas posições contrárias a Israel e por ter uma agenda política inclinada para a esquerda[9]. Em suma, a organização não conseguiu a união de todos os cristãos.

 3. Aliança Evangélica Internacional

Rejeitando as propostas de união dos cristãos por motivos ortodoxos, doutrinários e políticos, várias igrejas cristãs conservadoras resolveram criar a Aliança Evangélica Internacional (Word Evangelical Aliance – WEA), como uma organização inter denominacional de alcance mundial. De acordo com os registros, “foi fundada por líderes evangélicos de 21 países na primeira assembleia geral em Woudschoten (Zeist) na Holanda. Em 2001, após a Assembleia Geral em Kuala Lumpur, a Comunidade Evangélica Mundial tornou-se novamente a Aliança Evangélica Mundial. Em 2006, ela abriu um escritório nas ONU em Genebra, que se somou a Nova York. Em 2018, estabeleceu sua sede em Deerfield (Illinois), Estados Unidos. Em 2020, a WEA reuniu 143 alianças nacionais de igrejas que teriam 600 milhões de crentes” [10].

Estabeleceu um acordo com “Sociedades Bíblicas Unidas, visando a mobilização da rede global da WEA em mais de 130 países para fortalecer e impulsionar o trabalho de tradução, publicação, distribuição e engajamento com a Bíblia”[11]

No objetivo de cumprir a grande comissão, a WEA divulgou em 2023 uma declaração onde expressou o propósito de envidar esforços para alcançar o maior número de pessoas entre os oito bilhões de pessoas até o ano de 2033, proclamando a salvação em Jesus Cristo[12].

 4. Movimento de Lausanne

Além dessas três iniciativas promovidas pela igreja católica, por igrejas protestantes e por igrejas evangélicas, outras organizações e movimentos foram criados em nível internacional principalmente para estimular a evangelização mundial, procurando congregar o maior número possível de igrejas cristãs envolvidas nesse propósito. Entre essas iniciativas, destacou-se o Congresso Internacional de Evangelização Mundial, promovido pela Associação Evangelística Billy Graham, realizado em 1974, com a presença de mais de 2.400 participantes, em Lausanne, Suíça, representando denominações de 150 nações[13]. No pacto firmado então, a unidade do Corpo de Cristo foi claramente proposta: “Haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da Igreja de Cristo. Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade”[14]. O Congresso voltou a se reunir em Amsterdam, na Holanda, em 1986, com a presença de mais de 8.000 ministros e leigos de várias denominações de 170 países. Na pesquisa de identificação foi verificada a presença de 17,7% de pentecostais, 15,3% de batistas, 6,11% de presbiterianos, 3,4% de metodistas, 2,9% de anglicanos e episcopais, além de várias outras denominações[15]. Esses congressos produziram o Movimento de Lausanne, que realizou outros congressos menores, em outros anos, em outras cidades.  A comemoração internacional do 50º aniversário do movimento, em Seul, Coreia do Sul, em 2014, prossegue no mesmo objetivo de unir os cristãos para a evangelização mundial[16]. O pensamento prevalecente é de que as diferenças denominacionais e doutrinárias não devem anular o propósito da unidade dos cristãos evangélicos.

Conclusão

Além dessas três organizações internacionais para unir os cristãos, cada igreja e denominação também têm suas respectivas organizações objetivando união de seus membros em todo o mundo. Parece, todavia, que a oração de Jesus Cristo somente será realizada em termos escatológicos, de acordo com a visão do apóstolo João: “Depois disso, olhei, e eis que diante de mim havia uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e folhas de palmeira nas mãos” (Apocalipse 7.9). No final da história, todos os cristãos verdadeiros estarão juntos e unidos diante de Jesus Cristo. Enquanto isto não acontece, vale a pena o esforço para unir cristãos de várias igrejas e denominações, a fim de atender determinados objetivos específicos, respeitando-se as práticas e doutrinas apostólicas.

 Autor: Edson Raposo Belchior

Bibliografia

ANDADE, Eneziel Peixoto. A Missão da Igreja. Uma abordagem na perspectiva do Pacto de Lausanne. Didaquê Publicações, Amazon, 2017.

BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, Juerp/Aste, 1983.

CAVALCANTI, Ebenezer Gomes. Os Batistas e o Ecumenismo. Rio de Janeiro, Juerp, 1970.

KASPER, Walter. Que Todas Sejam Uma. São Paulo, Edições Loyola, 2008.

KRUGER, Hanfried. O Conselho Mundial de Igrejas. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1987.

STOTT, Jonh. John Stott comenta o Pacto de Lausane. São Paulo/Belo Horizonte, ABU Editora/Visão Mundial, 1983.

 Referências 

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Dicast%C3%A9rio_para_a_Promo%C3%A7%C3%A3o_da_Unidade_dos_Crist%C3%A3os

[2] CAVALCANTI, Ebenezer Gomes. Os Batistas e o Ecumenismo. Rio de Janeiro, Juerp, 1970, pg. 9.

[3] KRUGER, Hanfried. O Conselho Mundial de Igrejas. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1987, pg. 11.

[4] KRUGER, op. cit., pg. 13.

[5] CAVALCANTI, op. cit., pg. 11.

[6]https://www.ihu.unisinos.br/categorias/629983-conselho-mundial-de-igrejas-comemora-75-anos-de-existencia-numa-europa-em-guerra

[7] BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, Juerp/Aste, 1983, pg. 357.

[8] Idem, ibidem, pg. 78.

[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho_Mundial_de_Igrejas

[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/Alian%C3%A7a_Evang%C3%A9lica_Mundial

[11] Revista Ultimato Online, 24/01/2020,

[12] Revista Comunhão. Edição Digital, 13/09/24

[13] https://lausanne.org/pt-br/about-lausanne

[14] STOTT, Jonh. John Stott comenta o Pacto de Lausane. São Paulo/Belo Horizonte, ABU Editora/Visão Mundial, 1983, pg. 32,36.

[15] Amsterdan 86. Suplemento Missionário da Revista Ultimato. Viçosa, Editora Ultimato, n°178/179, pg. 2, 3. 

[16] https://www.ultimato.com.br/conteudo/movimento-lausanne-anuncia-seu-proximo-congresso