Refletindo Sobre o Assunto Vocacional

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Refletindo Sobre o Assunto Vocacional

REFLETINDO SOBRE O ASSUNTO VOCACIONAL

 Introdução

  1. Ao comentar este assunto, o Dr. Gary Collins apresentou várias razões para explicar por que a escolha vocacional é uma das decisões mais importantes da vida: a) ela vai determinar a maneira como vamos gastar o maior tempo de nossa atividade profissional; b) ela vai determinar o estilo socioeconômico que vamos desfrutar; c) ela vai determinar o tipo de relacionamento social que teremos, isto é, colegas, amigos e até vizinhos; ela vai influir sobre desdobramentos em nosso psiquismo, quer determinando ajustamentos como desajustamentos[1].
  2. Na atualidade, de acordo com Dr. Rodolfo Bohoslavsky[2], não mais é aceita a explicação de que uma pessoa ocupa uma determinada atividade por força de sua vocação. Neste caso, entendia-se vocação como a explicação dada para simplesmente justificar por que uma pessoa estava trabalhando em mecânica ou eletricidade ou advocacia ou engenharia ou medicina. Hoje também queremos saber por que uma pessoa tem vocação para determinadas atividades, estudando os fatores hereditários e ambientais que contribuíram para essa vocação. Como consequência dessa necessidade atual, surgiu a Orientação Vocacional[3]. Pessoas que se submetem aos testes vocacionais podem melhor perceber sua vocação e também escolher atividades nas quais estarão mais ajustadas e realizadas. Nas entrevistas com o profissional dessa área, o candidato tem melhores condições de conhecer a si mesmo, conhecer o mercado de trabalho e conhecer seu perfil inter-relacional, através de vários testes que serão aplicados.

 1. Visão Bíblica de Vocação

Quando se abre a Bíblia para estudar este assunto, não encontramos a palavra vocação no sentido que a temos empregado até agora. O que encontramos abundantemente é a ideia do trabalho em si. Por isso, ao verificarmos as ideias sobre trabalho que são encontradas na Bíblia, estaremos interpretando como vocação.

Isto significa, por exemplo, que a vocação ou os tipos de trabalhos se diversificaram com o passar dos anos, séculos e milênios. No início as principais atividades registradas na Bíblia eram lavrar a terra (agricultor) e cuidar dos animais (pecuarista) e o pescar (pescador). Depois vieram os oleiros, pedreiros, ferreiros, carpinteiros, costureiros, músicos. Com o processo de expansão geográfica, surgiram os comerciantes e militares. A organização social produziu os políticos, os administradores, os advogados, juízes, engenheiros, sacerdotes e outros.

O legislador das leis religiosas que adjetivou o trabalho como ordenança divina foi claro em acentuar  que ocuparia a maior parte dos dias, restando aos trabalhadores apenas um dia de repouso. Em outras palavras, a Bíblia ensina que não há espaço para preguiça, ócio, malandro, sendo o trabalho também expressão de ordem social e fonte justa de renda financeira. A escravidão de outros povos era tolerada culturalmente. O ato de trabalhar é que teria valor em si e não o tipo de trabalho ou atividade que alguém viesse a exercer, evidenciando ausência de discriminação profissional, mas valorização uma das outras.

 

2. Vocação Religiosa

Se a Bíblia não é clara quanto a Deus influenciar diretamente na percepção e encaminhamento de uma vocação secular, dando a entender que seriam determinadas por fatores genéticos e ambientais, o mesmo não aconteceu quanto à vocação religiosa para o líder espiritual, o profeta, o pastor ou apóstolo. O sacerdócio no Tabernáculo e no Templo, no primeiro chamado de Deus ou vocação, foi entregue a uma tribo, mas depois essa atividade também passou a ser determinada por fatores hereditários e ambientais.

Porém, o surgimento de Abraão e de Moisés como líderes religiosos, de Samuel, Isaías, Jeremias, Amós e outros como profetas, de Mateus, João, Pedro, Paulo e outros como pastores ou apóstolos foi em virtude do que chamamos de vocação espiritual, de modo individual, resultado de um relacionamento pessoal com Deus.

Por isso, de acordo com os exemplos relacionados na Bíblia, os líderes religiosos, os profetas e os pastores necessitam viver e testemunhar uma vocação espiritual resultado de um relacionamento com Deus, que os chama para determinadas atividades no seu Reino e nas suas igrejas. Não basta apenas ter talentos naturais, ter fatores genéticos e ambientais, ter formação acadêmica teológica. Não basta apenas ser uma pessoa reconhecida na comunidade com uma personalidade extrovertida, comunicativa, simpática, persuasiva e de integridade moral.

De acordo com os exemplos relacionados na Bíblia, entre os quais  Jeremias (Jeremias 1.1-7), Isaías ( Isaías 6.1-6), Amós (Amós 7.14,15), Pedro (Mateus 4.18-20; João (João 1.41,41: 21;15-17), Timóteo (II Timóteo 1.5,6 ; 3.15; I Timóteo 4.12),   o vocacionado espiritual pode perceber seu chamado da parte de Deus através de várias evidências. Isto significa que não existe apenas uma maneira de Deus chamar, mas essa percepção pode ser variada[4]: seu amor aos pecadores perdidos que estão seu redor, querendo salvá-los da condenação eterna; um incontido desejo de ensinar sobre Deus e Jesus Cristo a um grupo de crentes que precisa; um inexplicável desejo de liderar uma igreja que necessita de orientações divinas para se conduzir em suas diferentes áreas de atuação; uma irrefreável vontade de ir ao encontro de pessoas de outros povos e nações para que também sejam salvas através de Jesus Cristo; um profundo sentimento de compaixão e solidariedade por pessoas em estados de perdas e sofrimentos humanos para que possam experimentar o amor de Deus em Cristo Jesus. A percepção dessas evidências geralmente acontece quando o vocacionado está lendo e estudando sobre essas personalidades cujas histórias estão registradas na Bíblia.

 

Conclusão

Se for importante fazer testes vocacionais para ter um ajustamento no trabalho que resulte na comprovação de uma vocação secular e na realização profissional, muito mais importante é a certeza de que está exercendo uma atividade religiosa por força de uma vocação espiritual, isto é, de um chamado específico de Deus. Se na comunhão com Deus é possível ser também ser ajudado em oração para descobrir a vocação secular e encontrar a melhor oportunidade de trabalho, não se justifica alguém escolher uma atividade religiosa se não tem a vocação espiritual de Deus. Se isto acontecer, o futuro não será promissor.

 

Autor: Edson Raposo Belchior

 

BIBLIOGRAFIA

BOHOSLAVSKY, Rodolfo. São Paulo, Editora Martins Fontes, 2019.

COLLINS, Gary. Orientación Sociológica Eficaz. Caribe, Editora Caribe, 1987.

GONZÁLES, Justo. Ministério: Vocação ou Profissão. Flórida,  United Press, 2012

OLIVEIRA, Inauda Dubeux e VASCONCELOS, Zandre Barbosa. Orientação Vocacional: alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos. São Paulo, Editora Vetor, 2004.

WILDER, John. O Jovem Pastor. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro, 1971.

WEIL, Pierre. Manual de Psicologia Aplicada. Santa Luzia, Editora Itatiaia Ltda., 1967.

REFERÊNCIAS

[1] COLLINS, Gary. Orientación Sociológica Eficaz. Caribe, Editora Caribe, 1987, pg. 111

[2] BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional. São Paulo, Editora Martins Fontes, 2019, 72

[3] WEIL, Pierre. Manual de Psicologia Aplicada. Santa Luzia, 1967, pg. 112 seg.

[4] WILDER, John. O Jovem Pastor. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1971, pg. 19.