“DEUS AMA O PECADOR, MAS ODEIA O PECADO”.
Esta é uma declaração feita por pessoas legalistas para justificar atitude impiedosa de rejeitar outras pessoas achadas em faltas, erros e pecados. Em nome de uma interpretação bíblica anacrônica, são capazes de julgar, condenar e punir pessoas que erraram, falharam, pecaram. O pressuposto dessa maneira de pensar e de agir está na possibilidade do pecado existir separadamente do ser humano e de algum ser humano viver sem pecar. A revelação bíblica mostrou que foi o ser humano quem trouxe o pecado à existência em nossa realidade terrena e que o pecado se tornou parte integrante da natureza humana (Gênesis 3; Romanos 3.10-23). Tiago detalha o processo como essa experiência ocorre: a própria natureza humana faz o pecador surgir (Tiago 1.14-16).
A partir da vinda de Jesus Cristo ao mundo e de seu sacrifício expiatório na cruz do Calvário, instalou-se a era da graça, quando todos os seres humanos passaram a ser objeto do amor e do perdão de Deus, principalmente os cristãos. Bastaria lembrar o ensino bíblico de Paulo apóstolo, quando tratou deste tema de maneira diferente de julgar, condenar a punir. Ele recomendou diferentemente: “Se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gálatas 6.1). O pecador, em virtude do pecado cometido, deve ser tratado com mansidão, que significa brandura com objetivo de restaurar, recuperar, em vez de ser objeto de ódio.
Esta recomendação segue a mesma diretriz dada por Jesus Cristo, quando também tratou deste assunto. Jesus disse: “Se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mateus 18.15). Claramente Jesus mostra o objetivo de ganhar o pecador em razão do pecado cometido, ao contrário de fazer dele objeto de ódio.
Além de proceder desta maneira, a recomendação bíblica que se repete de modo enfático é a concessão do perdão. Perdão contínuo e restaurador (Lucas 17.3,4). Perdão em nome do amor de Deus. Agir de outra forma, inclusive usando a justificativa da pessoa ter errado, revela um espírito vingativo cujo objetivo seria punir impiedosamente a pessoa. Pior ainda, é construir uma declaração teológica usando o caráter de Deus, como se Deus não estivesse agindo com base em sua graça, tendo como fundamento a crucificação de Jesus Cristo com seu sacrifício expiatório.
Ainda que Deus, nas páginas do Velho Testamento tenha sido severo e punitivo e, no final da era da graça, por ocasião do Juízo Final, irá punir os pecadores renitentes, esta é uma ação que pertence exclusivamente a Deus, que em virtude de sua onisciência tem condições de julgar, condenar e punir. Aos seres humanos, em nossa era da graça, principalmente aos cristãos, é determinado que não julgassem e não condenassem, porém perdoassem uns aos outros. O caso de rejeição permitida à pessoa que foi comprovadamente iníqua, sem nenhum tipo de compromisso com Jesus Cristo, conforme recomendação do apóstolo Paulo aos coríntios (I Coríntios 5.9-13) foi temporária e didaticamente corretiva, pois logo em seguida o mesmo apóstolo Paulo recomendou que a pessoa fosse perdoada (II Coríntios 2.10,11). A recomendação que embasa esta atitude foi a recomendação de Jesus Cristo: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.44)
Portanto, é lamentável uma atitude punitiva, na era da graça, ainda mais, quando a pessoa que julga, condena e pune os outros também precisa para si mesmo perdão de outrem e de Deus. Faz lembrar aquela história de Jesus, quando ele falou de uma pessoa que devendo “dez mil talentos” (milhões em moedas de prata) pediu que fosse perdoado e recebeu a benção. Outra pessoa que lhe devia “cem dinheiros” (cem moedas de prata) em vez de receber igual perdão, foi tratada com ira, condenação e punição (Mateus 18.23-35). Infelizmente é assim que tem acontecido, inclusive na igreja, entre irmãos em Cristo Jesus. Pessoas que pregam o perdão, ensinam o perdão e escrevem sobre o perdão não colocam o perdão em prática. Parece que perdão é apenas um tema para ser objeto de fala e escrita e não de prática.
O que fazer? Pedir perdão a Deus e conceder perdão a pessoas a quem não perdoaríamos. Enquanto há tempo para isto!
Autor: Edson Raposo Belchior
BIBLIOGRAFIA
Kemp, Jaime. A Graça de Deus. São Paulo, Editora Palavra, 2010.
Rentzky, Larry e Wright, H. Normam. O Poder da Graça que Restaura. Guarulhos, Editora Vida, 2011.
Macdonald, William. A Graça de Deus. Porto Alegre, Editora Chamada da Meia Noite, 2010.