O DESAMOR NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
A incapacidade de uma pessoa sentir e demonstrar amor por outras pessoas realmente pode e deve ser objeto de terapia. O tratamento terapêutico, todavia, sempre será limitado ao estudo e descoberta das etiologias, sem necessariamente promover cura, isto é, o tratamento em si não promoverá o surgimento do sentimento de amor. Uma vez existindo abordagem terapêutica, a etiologia pode realmente apontar o narcisismo, a sociopatia e a psicopatia como causas[1]. Todavia, sempre deve ser lembrado que, nesses diagnósticos patológicos, além do desamor também estarão presentes atitudes de ódio ao outro, agressões verbais, emocionais e físicas, desrespeito, indiferença, insolência[2]. Dessas pessoas a melhor atitude é se afastar delas, pois podem ser muito prejudiciais nas relações interpessoais.
Por outro lado, a incapacidade de amar o outro pode ter outras explicações. Pode ter sua origem em experiências passadas de rejeição, abandono, desvalorização e crenças disfuncionais. Dependendo da história da pessoa as causas podem ser as mais variadas[3].
Se as causas podem ser várias e não incluam o narcisismo, a sociopatia e a psicopatia, a abordagem terapêutica terá como objetivo apontar caminhos para que o desamor seja tratado da melhor forma possível, para ser transformado em amor, tais como autoconhecimento, desconstrução de crenças, aprendizagem de técnicas e estratégias emocionais, inclusive desenvolver autoestima[4]. Neste caso, um dos caminhos também é a experiência de vivenciar novos relacionamentos, nos quais o amor do outro possa estimular a transformação do desamor em amor[5].
Todavia, esse caminho ideal humano nem sempre é experimentado satisfatoriamente. Várias razões acabam mantendo o desamor. Algumas dessas razões são:
- Dificuldade em encontrar alguém que realmente possa amar a pessoa, pois “encontrar um amor” não acontece em qualquer esquina de rua e o desamor permanece.
- Se a pessoa tem sorte de encontrar alguém que sinta e demonstre amor por ela, a experiência de ser amado pode também encontrar impedimentos insuperáveis e a experiência não ser consumada, mantendo o desamor ou sua alternância entre amor e desamor, gerando insatisfação mútua.
- Uma experiência positiva de encontrar um amor que transforme o desamor em amor, por um período, está sujeita também à realidade de que não existe amor perfeito. Consequentemente o processo de ser amado fica sujeito às crises da vida, tais como temperamentos diferentes, alvos divergentes, expectativas que mudam com o tempo, insatisfação com o outro. Neste caso, o desamor retorna e a frustração ganha lugar, gerando o fim de um sonho.
Conclusão
Alguém escreveu um livro chamado “As 5 Linguagens do Amor”[6], cujo objetivo principal foi esclarecer às pessoas que não se sentem amadas que há diferentes formas de amar. Neste caso, quem não se sente amado “romanticamente” precisa perceber que foi ou está sendo amado de outras maneiras diferentes, de acordo com a personalidade de cada um, podendo assim experimentar satisfação sentimental.
Um tipo diferente de amor a ser considerado na tratativa desse problema do desamor é a experiência religiosa de conversão a Jesus Cristo, quando a pessoa recebe o amor de Deus em seu coração e vivencia uma nova atitude[7]. Neste caso, se originalmente lhe falta o sentimento do amor por diversas causas e não consegue viver uma experiência humana de ser suficientemente amada para ter o amor despertado em si, milagrosamente a pessoa experimenta o amor de Deus através de Jesus Cristo e começa a amar a si mesma e amar os outros, ainda que a partir de um tipo espiritual de amor[8]. Esta experiência que inicia com o amor espiritual influencia outros tipos de expressões de amor na personalidade da pessoa[9]. Esse amor espiritual também se desdobra em amor sentimental, solidário, empático, incondicional, perdoador, gracioso e até mesmo romântico, além de um saudável amor próprio.
É evidente que, para outra pessoa perceber essa dimensão espiritual do amor com esses desdobramentos, terá igualmente que experimentar o amor de Deus, senão parecerá naturalmente impossível sua existência e sua expressividade.
Autor: Edson Raposo Belchior
Referências:
[1] https://marcelocomparin.com/diferencas-entre-narcisista-psicopata-e-sociopata-decifrando-as-personalidades-intrigantes/
[2] https://hospitalsantamonica.com.br/o-que-e-o-transtorno-da-personalidade-antissocial-e-quais-sao-os-sintomas/
[3] https://www.psicologiasemfronteiras.com.br/2024/02/desamor-o-que-e-e-como-lidar-psicologa.html#:~:text=Desamor%20%C3%A9%20a%20experi%C3%AAncia%20emocional&text=O%20desamor%20reflete%20a%20aus%C3%AAncia,ou%20a%20aus%C3%AAncia%20de%20autoestima.
[4] https://www.psicologiasemfronteiras.com.br/2024/02/desamor-o-que-e-e-como-lidar-psicologa.html
[5] https://jrmcoaching.com.br/blog/o-que-e-o-desamor-como-curamos-dele/
[6] CHAPMAN, Gary. As 5 Linguagens do Amor. São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2018.
[7] João 3.16; Romanos 5.8
[8] Romanos 5.5.
[9] Gálatas 5.22